Fotos: Vinicius Becker (Diário)
Professora nata, há mais de uma década, Jussara Dorneles, 53 anos, trocou a sala de aula pelo banco de uma van escolar. Levou com ela o amor pelos alunos e a sequência do legado que começou a construir com o marido Clóvis. Essa história teve início em 2009, quando ela perdeu o emprego e abriu uma empresa de transporte escolar. No começo era a “tia” da van, auxiliando as crianças durante o percurso. O marido era quem dirigia.
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A mudança, do banco do carona para o volante, ocorreu em 2021 quando o marido foi internado e diagnosticado com Covid-19. Para que o transporte não parasse, passou a levar as crianças de carro e deu início à habilitação da categoria D, que permite dirigir carros destinados ao transporte coletivo de passageiros.
– Um dia, eu estava passando na frente de uma autoescola e pensei: “vou fazer, preciso tentar”. Não tínhamos condição de pagar um funcionário. Lembro de ter ido no hospital e, por mais que ele não falasse com a gente, contei: “velho, tu nem sabe, dei entrada na carteira D” – contou Jussara.
Três dias depois de passar em uma das etapas da habilitação, Clóvis não resistiu e faleceu. Entre mudanças na rotina e o luto, decidiu finalizar a carteira para seguir com o transporte escolar – apoiada pelos filhos e pela mãe, hoje com 91 anos. No volante do elefante branco, como se refere à van escolar, é responsável por deixar 30 crianças em casa todos os dias.

– Foi bem difícil porque não achávamos que ele fosse falecer. E eu jamais me imaginei dirigindo uma van, porque ele sempre foi o motorista. Minha função era ir atrás, coordenando e brincando com as crianças. Já são 16 anos de transporte escolar, e eu continuo fazendo o que eu mais amo que é trabalhar com crianças e adolescentes.
Ao lado dela na missão diária, estão os filhos Heron, 21 anos, e Heitor, 12. São eles que fazem companhia no percurso:
– É por eles que eu continuo e estou aqui. Juntos, temos a força de seguir em frente. E a minha mãe é uma base para tudo isso. É o nosso amor que nos mantém de pé. O pai deles faz muita falta porque um pai é tudo. E o Clóvis era um baita pai.

“Eu carrego o tesouro de todo mundo”
A rotina de Jussara começa cedinho, quando deixa os primeiros alunos na escola. Antes do meio-dia, ela já está a postos no fundo do Colégio Fátima para deixá-los em casa. De longe, todos reconhecem a tia Jussara e vão acelerados ocupar um lugar na van. Antes de subirem, ouve-se as tradicionais palavras: “devagar, devagar”. Na volta, agitação e cantorias.
Questionada sobre os desafios da profissão, ela não titubeia em falar sobre o trânsito e os dias de chuva:
– Tem dias que é complicado levantar com chuva e com frio. Quando fura um pneu, dá um desespero. Mas é mágico trabalhar com eles. Eu costumo dizer que eu não carrego alunos, eu carrego filhos.
Nem só de trânsito e amor pela profissão vive o transportador escolar. Jussara afirma que assume, diariamente, o compromisso com a segurança dos alunos e também do veículo. Pelo menos duas vezes por ano, a van passa por uma vistoria completa, geralmente durante as férias escolares. A conduta é uma regra:
– Afinal, eu carrego o tesouro de todo mundo – conclui Jussara.

A data
O Dia do Transporte Escolar é celebrado em 1º de julho no Brasil. A data foi instituída pela Lei 13.991 de 26 de março de 2010, no Estado de São Paulo, como forma de homenagear os profissionais que atuam no transporte de estudantes. A escolha da data está relacionada a uma manifestação do setor ocorrida em 1º de julho de 2004.
A lei, que instituiu a data, tem como objetivo reconhecer a importância do transporte escolar e a atuação dos profissionais que se dedicam a garantir o acesso seguro e eficiente dos alunos às escolas. É, também, uma forma de homenagear A data serve como um momento de reflexão sobre a importância da segurança e qualidade os profissionais que atuam nessa área.
Em Santa Maria, conforme dados da prefeitura, atualmente, 278 veículos particulares estão aptos a prestar o serviço de transporte de estudantes. Além disso, o Executivo conta com nove veículos próprios que prestam realizam o transporte dos alunos da rede municipal.
Maria Izabel: quase três décadas dedicadas ao transporte escolar
A rotina no transporte escolar é bem conhecida por Maria Izabel Bortoluzzi, 66 anos. Foram quase três décadas dedicadas à profissão. Ela não se recorda exatamente o ano em que tudo começou, mas lembra com carinhos dos primeiros passos:
– Eu comecei a trabalhar em uma empresa de transportes. No início, eu era a tia, como chamavam a auxiliar, não era motorista. Depois, eu tirei a carteira D. Passei de primeira.

No início, fazia o transporte de Kombi que, anos mais tarde, foi substituída por uma van. A rotina começava todos os dias às 5h40min e só acabava depois das 19h. Quando começou, ela conta que eram poucas mulheres na função. Número que viu aumentar nos últimos anos.
Maria Izabel se aposentou do transporte escolar em 2020, durante a pandemia. Diante da pausa nas escolas, resolveu se dedicar à família, e assim tem sido os últimos anos. Com carinho, ela fala sobre os anos na companhia dos alunos:
– Eu gostava muito. Era bom estar com as crianças. Dava para escrever um livro com todas as histórias que eu ouvia na van.
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